quarta-feira, 4 de maio de 2011

MAIS QUE UMA DATA, UM FATO HISTÓRICO

Cem anos depois, após um período de esquecimento, a Amazônia _ e com ela o Pará _ está na ordem do dia. Continua complexa e cheia de contrastes. A natureza não é a mesma, no lugar da mata densa surgiram estradas, fazendas, vilas e cidades. A produção econômica mais pujante é o minério. O analfabetismo ainda que reduzido continua uns 12 a 10 %, na população acima de 15 anos.Um grande desafio não só para os demais brasileiros, mas para os milhares de pentecostais.

O dia 19 de novembro é muito significativo para a História da Assembleia de Deus em Belém. Exatamente há cem anos chegavam a esta cidade, vindos dos Estados Unidos da América, os jovens suecos, Gunnar Vingren e Daniel Berg. Por que tão significativa essa data, se a fundação da Igreja Assembléia de Deus ocorreu em 18 de Junho de 1911?

Primeiramente por ser, 19 de Novembro, o Dia da Bandeira, festejado quatro dias após à comemoração dos onze anos da jovem república brasileira, cuja Constituição consagrava a separação entre o Estado e a Igreja.

Outro ponto significativo e intrigante é que justamente no segundo semestre de 1910, ocorreu outra queda expressiva nos preços da borracha, só que desta vez não aumentaram mais. Era o começo do fim da prosperidade, do refinamento de hábitos da elite paraense, da efervescência artístico - cultural das companhias estrangeiras que aqui aportavam.

Deus, o Senhor da História, na sua onisciência escolheu Belém para iniciar o maior movimento pentecostal no Brasil, pois sabia que toda aquela movimentação, proveniente da riqueza da borracha, com levas de imigrantes sofreria uma reviravolta.

Voltando àquele passado, de certo ponto de vista não tão longínquo, nos remete primeiramente à natureza amazônica. Nos fragmentos do diário de Vingren podemos rever a paisagem exuberante da natureza, quando, numa viagem às ilhas, nos arredores de Belém, um mês depois de sua chegada, ele registra: "fomos levados para um mundo romântico, dominado por imensas selvas com grandes orquídeas e cipós por todos os lados. Não havia estradas na selva fechada e misteriosa, ou qualquer vereda por onde pudéssemos caminhar com segurança", além de impressões sobre animais selvagens, como onças, jacarés, e os macacos, tão comuns nas viagens, não só dele, mas de outros pioneiros.

Sabemos que Daniel Berg e Gunnar Vingren encontraram uma cidade com padrão de urbanização e estilo de vida avançados, se comparada com outras capitais do Norte do Brasil. A cultura fervilhava com exposições de espetáculos de música lríca no Teatro da Paz. A população paraense tinha crescido com a vinda dos "cearenses" que fugiam da seca para os seringais amazônicos. Em 1910, segundo fontes históricas, a população paraense contava com 783.845 habitantes.

Na verdade, no aspecto sócio-cultural, a Amazônia era complexa, difícil e cheia de contrastes. A riqueza vinda da borracha convivia com a miséria e o analfabetismo, 70% da população era analfabeta. Entre 1910 e 1920 o fato mais importante na História do Pará, foi o refluxo da população nordestina de volta aos seus lugares de origem.

Integrando esse contingente, os então convertidos à nova fé voltavam para seus parentes e amigos levando as Boas Novas. Foi assim que os 19 pentecostais iniciais ganharam dezenas de novos adeptos. Enfrentaram feras, rios revoltos, fome e perseguições de todo tipo. Construíram escolas e derrubaram paradigmas. Como diz o hino, "eram heróis sem medalhas, mas suas histórias não podemos esconder". Ganharam centenas de pessoas e hoje são milhares. Assim as Assembleias de Deus se espalharam no Brasil.

Os jornais da época noticiavam apreensivos a saída dos nordestinos ou “cearenses” despovoando o interior do Pará. O que estes veículos não noticiaram, e hoje sabemos, é que muitos desses nordestinos foram impactados pelo poder da mensagem trazida por Berg e por Vingren, pois lhes dava uma dignidade que a riqueza da borracha não lhes deu e nenhum sistema social pode dar.

Agradeço a Deus, ao meu país e o Seu povo por me dar condições de fazer hoje, o que naquela época não seria fácil: ter a liberdade de registrar publicamente estas reminiscências.

Parabéns Brasil!
Parabéns Pará!
Parabéns Belém!
Parabéns à Igreja Matriz de todas as Assembleias de Deus no Brasil!



Autora - Miriam Gouveia dos Santos.

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